segunda-feira, 16 de março de 2009

UM MUNDO DE OPÇÕES QUE SE RENOVAM DIARIAMENTE

O vice-presidente da Johnson & Johnson fez propaganda do Brasil ao dar início à WFA/ABA Global Advertiser Conference 2009, e era mesmo o que se esperava dele, afinal, como presidente da Associação Brasileira dos Anunciantes, uma das mais poderosas entidades do nosso País, cujo alcance de influência tem crescido a cada ano, no mesmo compasso da publicidade em tempos de globalização, Ricardo Bastos se dirigia a um significativo número de executivos estrangeiros na platéia que, em razão da grandiosidade do encontro e da oportunidade de conhecer um mercado em evolução acelerada, chegaram aqui oriundos de diversas nações. Tudo para acompanhar não apenas um dia de palestras e discussões sobre temas relevantes na capital paulista, mas, também, para, em paralelo, circular por uma das mais fabulosas metrópoles do Planeta, desembarcando, na quinta-feira desta mesma semana, no Rio de Janeiro, para reuniões fechadas, sem presença da imprensa, e passeios inesquecíveis, como uma visita ao Maracanã.

Ao fazer propaganda do Brasil, porém, Bastos não se restringiu a falar de nossas paisagens, nossa música, nosso samba, nosso Carnaval. Nos dias atuais estes são chamarizes ainda, não há dúvida, contudo, não mais simbolizam nossa proposta de ser e existir principal em relação ao mundo. São nossas peculiares atrações naturais e artísticas, neste século XXI, mais do que sonharíamos em ter se ricos sempre tivéssemos sido; e menos do que necessitamos mostrar agora, nesta era, na qual, enquanto muitos se debruçam sobre a areia em lamento, tanto em momentos de euforia religiosa como para chorar mágoas, os brasileiros começam a perceber que a sorte da fortuna nos tem revigorado a cada manhã. Nestas manhãs do futuro, finalmente presentes. Somos ricos, senhores, mais do que supúnhamos, mais do que planejávamos, e enriqueceremos mais e mais, elevando nosso PIB da nona colocação no ranking mundial para, não se espantem, uma das quatro primeiras posições. E, de repente, acordaremos tão felizes com as boas novas como também temerosos por nunca termos tido tempo – nem intensa vontade – para aprendermos a nos defender das maldades maiores às quais nunca nos entregamos, por piores que fôssemos, dado o fato de a ingênua alegria do povo brasileiro ter sempre nos cegado para infelicidades que picotam almas no mais profundo do ser, de onde também brota o machado que trucida a esperança. E agora, José? “Corra atrás da sua Maria”, uma vez que, como aprendemos nesta infância, tudo tem seu preço, inclusive os preços mais acessíveis dos produtos que estão fazendo com que as classes antes absolutamente alijadas de melhores condições de consumo subam rapidamente de patamar, correspondendo seus primeiros instintos à confusão inerente ao sábio que se distrai numa plantação de margaridas.

Visível, no rosto dos gringos, essa confirmação do poder aflorado do nosso País, mais importante se tornou a apresentação de Bastos, acompanhada, com aparente euforia, por Charlie Crowe, chief executive officer da CSquared, e Alan Walker, director da Contagious Magazine, cabendo a Simon Clift, chief marketing officer da global da Unilever, o papel de mau. E vamos acrescentar doses e mais doses do mal em sua conferência, uma das mais nuas e cruas dentre as que já assisti em vida quando o tema é a desgraça. Obviamente, não estava a desgraça no título da palestra, na verdade bem singelo: “Branding brands in new frontiers” (“As novas fronteiras do branding”). Já também sabemos ouvir com mais sutilezas, ou melhor, distinguir sutilezas para compreender que o mal era, em verdade, a essência da palestra, não suas imagens ou palavras linkadas.

Por precaução, digo, sem errar, que metade dos dados apresentados por Clift não convém a este espaço “midiático”, acostumado a reverberar idéias e sentimentos, visto que é disso que sobrevive a propaganda. Mas confesso que chorei. Antes e depois das cenas de sabonetes e marcas de sabão em pó que dão um “clean” e um “clear” na vida cotidiana, mais ainda nos pobres países ainda em busca de si mesmos por falta de uma identidade consistente – de preferência, uma identidade que vá além da soma do um mais um é dois. Cabe notar, entretanto, que as más notícias de Clift não se atreveram a estacionar na marca de 2025; aqui, terei de pedir direito à licença poética para ressaltar que 25 para menos, tomando como marco 2000, nos leva ao ano de 1975. O que mais seria preciso esclarecer, sob essa lógica, se não quero listar desgraças? Talvez, somar 50? Não chegaríamos, desse modo, a 2045 e, de repente, já teríamos chegado.

A hora é esta, para crescermos, aqui, sim, três vezes mais que a média mundial em cinco décadas, cinco anos, cinco meses, cinco dias, cinco minutos. Um novo ritmo ao qual nos acostumaremos, como as crianças se habituam ao oxigênio em doses absolutamente individuais fora do útero materno. E quando menos esperávamos já era hora de almoçar, ou ainda não? Restava saber: nós ou eles, quem são os alienígenas?

Quando se investe bilhões...

Reinventar a propaganda, adotar novas tecnologias e se aproximar ainda mais do consumidor. Esses são os três pilares que sustentaram a Conferência Global de Anunciantes da WFAe da ABA de 2009. Inspirando a necessidade de conhecer o consumidor, a palestra de Clift foi preenchida por comerciais que revelavam não só a a busca por uma aproximação com o cliente, mas a preocupação da marca em realmente melhorar a sua vida. O executivo mostrou que, a partir da presença de promotores da Unilever em vilas pobres pelo mundo, houve uma redução de 32% na incidência de diarréia. Para isso, a companhia orientou cerca de 250 milhões de cidadãos a lavarem as mãos com sabão para evitar germes, ampliando a penetração de mercado da marca Life Buoy. “Quando se investe bilhões em uma campanha, é muito fácil mudar comportamentos. Os clientes querem que suas marcas favoritas apóiem causas. Devemos hoje fazer um marketing ético”, esclareceu, acrescentando que o foco deve estar na produção de produtos sustentáveis e na preocupação com o meio ambiente, sob exemplo de uma ação de marketing viral que associava o sorvete às calotas polares – “Se derreter, não adianta mais”.

Alan Walker enfatizou que, mais do que adotar novas tecnologias, é preciso entreter o consumidor, pois, na verdade “as pessoas no mundo real não precisam de publicidade, mas, sem dúvida alguma, de conexões emocionais com o produto, como atestado no exemplo entre Kraft e iPhone. “Os clientes pagam por esse serviço, é uma necessidade”, afirmou.

Rafal Szysz, gerente regional de mídia para área EME da Avon, compartilha raciocínio semelhante: “A comunicação de uma marca se baseia no consumidor. Hoje é ele que transmite confiança a outro consumidor”.

Por seu turno, Jonathan Carson, presidente da Nielsen Online, manifesta olhar especial para o ambiente virtual: “A influência hoje também se volta para os blogs. De acordo com nossas pesquisas, nos EUA, cerca de dois mil blogs são dignos da confiança dos consumidores, sendo ao menos sete deles voltados ao setor de publicidade”.

Ele também explanou sobre a necessidade de ingressar na era da mobilidade, alertando que há mais de um bilhão de pessoas on-line, enquanto três bilhões têm celular.

A aceitação de que o consumidor é co-criador da marca também integra a visão do gerente da Avon, que mostra que além de gerar conteúdo, o cliente também pode gerar publicidade. “A mídia gerada pelo consumidor é nossa saída para evoluir e reinventar a publicidade”, destacou Jonathan Carson, presidente da Nielsen Online.