quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Publicidade mantém tendência de concentração

Crise global deixa multinacionais mais seletivas na avaliação de fusões e aquisições no Brasil
A atratividade dos mercados emergentes para as multinacionais do setor de comunicações tem garantido movimentos constantes no mercado brasileiro. Em 2008, mantiveram-se as tendências de concentração nesse segmento e de ampliação da presença dos grupos globais no País (veja abaixo as principais negociações do ano).

"Todos os grandes grupos estão ávidos por crescimento em mercados emergentes. O Brasil possui uma posição privilegiada, pois é reconhecido como um celeiro de talentos, possuidor de mercado publicitário muito desenvolvido, com altos volumes de investimentos e uma economia relativamente estável", confirma Ricardo Reis, diretor geral do Havas Digital para a América Latina.

Nessa seara, destacam-se neste ano as compras da Age pela Isobar (Aegis), da Z+ pelo Havas e da Tribal pela Digitas (Publicis), além da joint venture estabelecida entre a SantaClara e a Nitro.

O segmento digital manteve o vigor, com negociações importantes como a entrada da RBS no ramo de agências, por meio da compra de 30% da Pontomobi, e a formação das holdings Brands (Ideiasnet) e Virtual Co.

Em contrapartida, o cenário se mostra extremamente inóspito para a abertura de novas agências. As poucas iniciativas dessa natureza concretizadas em 2008 foram predominantemente realizadas por profissionais experientes que resolveram investir no estilo de "butique criativa" ou "agências de idéias", como os casos da carioca Loja, de Marcelo Giannini, e da paulista Kwarup, de Zuza Tupinambá.

Compasso de espera
Evidentemente, a crise econômica global, que fez várias multinacionais do setor de comunicação pisarem no freio, irá influenciar o desenrolar de novos negócios no mercado brasileiro.

"Nesse momento, todos os grupos, nos mais diversos setores, estão observando os desdobramentos da crise global. Isso não quer dizer que a temporada de fusões e aquisições esteja fechada, mas todos ficarão certamente mais seletivos e cuidadosos", ressalta Ricardo Reis.

Para Orlando Marques, presidente do Grupo Publicis Brasil, haverá diminuição desse tipo de movimento. "A falta de caixa será o mal de 2009 e isso, com certeza, afetará os negócios de fusões e aquisições. Acredito mais em fusões, por conta de más situações financeiras de uns e outros, do que em aquisições", pontua.

Tratando do caso específico de seu grupo, Marques afirma que o resultado alcançado em 2008 garante caixa para a busca de novas parcerias. "Temos interesse em agências com focos específicos nas áreas de internet, eventos, promoções e outras atividades de serviços de marketing", lista, sem fazer referência à negociação em curso com a interativa Sinc para dar mais musculatura à sua área digital, na qual ingressou com a Modem.

Já o presidente da Leo Burnett para a América Latina, Renato Loes, vislumbra uma situação "mais dura" para 2009, mas supõe que ela poderá favorecer as aquisições no mercado brasileiro.

União de forças
Com a crise global enxugando a liquidez do mercado, concorrentes poderão ser jogados uns nos braços dos outros, simplesmente porque, em muitos casos, a união não só faz a força como garante a sobrevivência.

O presidente do Grupo Totalcom, Eduardo Fischer, avalia que este talvez seja um dos melhores momentos para as associações. "Temos um ambiente favorável do ponto de vista cambial para investidores externos que queiram fazer aquisições no Brasil e, obviamente, que estejam capitalizados. De modo geral, acredito que o cenário atual, em todo o mundo, é bastante favorável às fusões", analisa.

Outro movimento que comprova a tendência de concentração é o que vem sendo realizado nos últimos anos pela 141/SoHo Square, do Grupo WPP, que aposta na incorporação de agências médias e pequenas para alimentar seu crescimento. "Esse foi o caminho que escolhemos para crescer, buscar novos talentos, sinergias e especializações", frisa Mauro Motoryn, presidente da 141/SoHo Square Brasil.